II
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
O Guardador de Rebanhos, Alberto Caeiro
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
O Guardador de Rebanhos, Alberto Caeiro
7 Comments:
A Margarida C. é uma querida, que não haja disso qualquer dúvida!!! Poesia de Fernando Pessoa, sob a capa de um dos seus mais conhecidos heterónimos, o Alberto Caeiro, naif e pateta.
Por acaso sempre imaginei a Margarida C. assim fofinha como uma ovelha lãzuda, e eu o Guardador do Rebanho... Daqueles, à antiga!
Querido LuaNova, não precisas de nos mostrar que conheces a poesia de Alberto Caeiro e os heterónimos de Fernando Pessoa, ninguém duvida dos teus conhecimentos gerais. Recordo-me de já ter referido em tempos o teu eruditismo não assumido mas sempre a ser posto em evidência. Não te apoquentes, é engraçado.
Se a poesia de Alberto Caeiro é naif e pateta então quem te/me dera ser naif e pateta também.
Quanto à tua fantasia... sou de facto parecida como uma ovelhinha lãzuda. Porém imagino-te mais como o avozinho da Heidi. Juntos damos uma fantasia fofinha.... naif e pateta.
Para além de Guardador de Rebanhos sinto-me agora também um mágico. Consegui fazer desaparecer apenas com um comentário o fascínio da Margarida C.!
Oh não! O fascínio está lá todo, mas expresso de maneira diferente... não desaparecerá nunca!
Foda-se, não gostas não leias. Que otário do caralho.
Como posso saber se não gosto sem ler, ó anónimo? Olha lá, e tu que fazes por aqui? Como conseguiste sair da ETAR?
Esse Caeiro "era" maluco dos cornos, falando bom português. Arre. Passar a vida a falar com flores, com montes, e com rios?
A sensibilidade tem limites, e gosto bastante de poesia.
Mas Caeiro... deixa muito a desejar.
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