Instrução na condução
Chegados os 18 anos, é raro quem não pense em tirar, imediatamente, a carta de condução. Muitas vezes, com a pressa de a despachar, acabam por chumbar (para um começo em grande, achei por bem fazer uma rima, por solidariedade aos cartazes do referendo)! Pois bem, encontrei um desconto numa escola no centro da capital, inscrevi-me e arrastei a Inês comigo (não só porque a escola era bastante mais barata comparativamente à escola onde ela estava inscrita anteriormente, mas também para me certificar que não adormecia nas aulas da manhã). E assim iniciámos a nossa aventura, em busca de mais uma fatia para o nosso queijinho (quem joga ao Trivial Pursuit, sabe do que estou a falar). Ainda não chegámos às aulas de condução, estamos ainda nas de código, mas não desprezemos estas aulas recheadas de humor e fantasia.
Temos vindo a conhecer os nossos instrutores a pouco e pouco, gente boa e simples. Partilham todos duas características. Uma delas é um sindrome comum no meio do ensino, toda a gente teve, pelo menos, um professor assim: "Mantenham sempre uma distância de segurança, de modo a evitar o aci...... (aqui entram os alunos em coro) deeente". Depois, tende a cair no ridículo: "Os sinais serão dados na aula de ama...... nhããã(?!)." Dou por mim a repetir bocadinhos de palavras, sob o olhar reprovador da Inês. É difícil de controlar, o desejo de completar as coisas dos outros é forte.
A segunda característica é o mau português. Atribuindo à palavra "instrutor" o significado de "aquele que instrui", estaremos a empregar mal o vocábulo? É verdade, fazem o que lhes compete. Ensinam o código, leêm o que vem no regulamento. Mas, por mais que dominem os termos e especificidades da matéria, não será a língua portuguesa a base de tudo isso? Saber ler é bom, sabermo-nos exprimir é ainda melhor. Mesmo que a nossa profissão não o exija, não é bom saber falar correctamente? Uma língua tão rica como a nossa, onde todos os dias se aprende uma palavra nova. E para aprender palavras, nada melhor que assistir a umas aulas de código: "O código é fácil mas há uma série de conceitos que têm de murmurizar"; "Quando avistarem este sinal, significa que vão entrar numa re......tunda". E muitas, muitas outras coisas se podem aprender nas aulas de código! Não me lembro de mais, a Inês é que aponta isso nas aulas. Eu limito-me a prestar atenção:) Na verdade, toda esta minha postura pode parecer arrogante, e talvez o seja. Não falo nem escrevo como desejava, e não sei o significado de metade das palavras que leio, mas sinto-me mal por isso e tento combatê-lo. Já é qualquer coisa...
Tenho vindo a reparar que, enquanto aluna, devo estar muito mal habituada.
1 - Na 1ª aula de código, tive a infeliz ideia de colocar uma questão. O instrutor olha para mim e pergunta: "Não será um bocadinho cedo para começar a fazer perguntas?", ao que respondi: "Ergh...", obtendo assim a resposta à questão colocada. A meio da explicação, toca um telefone. Ninguém se acusa, ao que o instrutor começa a remexer os bolsos: "A questão que a menina me pôs ser-lhe-á esclarecida na temática nº...... 'TÁ, INÁCIO?! ESTOU A DAR CÓDIGO, MAS DIZ, DIZ...!!". Ao que ninguém reage.
2 - Para acabar, contar-vos-ei o que sucedeu hoje na aula de Regras de Trânsito. "Portanto, se virem este sinal desenhado na via de rodagem, serão obrigados a seguir em frente.... Se transgredirem alguma destas regras, se cometerem alguma contra-ordenação muito grave (ou duas graves) durante o período de carta provisória (3 anos), ficam automaticamente sem carta... e lá nos teremos de gramar durante mais 28 aulinhas, não é verdade (remata com um sorriso vitorioso)?", quando de repente se ouve uma voz no fundo do corredor: "Professor, professor! Vá depressa, tem o carro mal estacionado e não param de apitar!!". Mais uma vez, naturalidade instalada na sala de aula.
E coimas para isto?