domingo, novembro 27, 2005

Add-Vice [Música]

Já dizia o Ed Motta que a ideia de ter de ir para a escola se tornava insuportável perante a possibilidade de ficar em casa a ouvir Stevie Wonder. Partindo do princípio de que o dever se sobrepõe à vontade, o rapaz ia à escola. Pois bem, partilho o mesmo gosto pela música de Stevie e sei que muitos de vocês também. Não conheço todas as suas composições, obviamente e existem, inclusivamente, umas que gosto menos (das que conheço, claro). Mas num geral é um compositor, um intérprete e um instrumentista fabuloso e uma enorme influência para outros grandes músicos. E pequenos também. Não deixa de ser também uma exemplo para todos nós, que muitas vezes encaramos o cego ou invisual como um aleijadinho incapacitado. Está mais que provado que não passa de um mau juízo.
A ouvir: Innervisions (1973), Songs In The Key Of Life (1976), Stevie Wonder's Journey Through The Secret Life Of Plants (1979), Jungle Fever (1991), Song Review (1996) (é uma compilação dos seus maiores êxitos, muitos deles incluidos nos cd's referidos anteriormente). Álbuns completos não conheço mais nenhum, apesar de conhecer muitos outros temas soltos. Sei que lançou um cd há muito pouco tempo chamado A Time To Love, ainda não tive oportunidade de o ouvir também. Espero ouvi-lo brevemente.

quinta-feira, novembro 10, 2005

II

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...


O Guardador de Rebanhos, Alberto Caeiro

quarta-feira, novembro 09, 2005

Lets get lost

Segunda-feira tive a oportunidade de assistir à entrevista no Jornal Nacional da Constança Cunha e Sá (editora de Política da estação) ao candidato à presidência da República, Manuel Alegre. Vejo pouca televisão mas na altura das candidaturas a primeiro-ministro assisti também à entrevista a Paulo Portas e tinha ficado com a mesma opinião. Fiquei com a impressão de que Portas estava a querer fazer passar a ideia de que tinha aceite o convite à entrevista por especial favor em honra à relação de amizade que nutria pela entrevistadora (uso o Pretérito Imperfeito pois quem sabe não se afastaram entranto... o senhor de um momento perdeu protagonismo ao regressar à Terra com os resultados das eleições e demitir-se do cargo de líder do CDS/PP... não vejo que interesse poderá continuar a ter tido.). Relação essa que estava constantemente a ser posta em evidência por ambas das partes. Perfeitamente desnecessário. Paulo Portas estava amistoso como nunca o tinha visto antes e surpreendentemente permissivo. Calmo, sorridente, todas das características a que não nos tinha habituado estavam presentes. Mas já aí se fazia notar a forma de abordagem peculiar da senhora. Passam a imagem de dois peneirentos mimados com mania de superioridade. Normalmente, a este tipo de pessoas, quando lhes sobe a mostarda ao nariz (aparentemente assoado com o mais caro dos lenços), sai a ranhoca mais nojenta alguma vez vista. No caso do Paulo Portas está provado que é verdade. Basta enervarmos um bocadinho a Constança Cunha e Sá e veremos.
Bem, escusado será dizer que na entrevista a Manuel Alegre não existia familiaridade alguma, apenas uma formalidade desconfortável à qual Constança se tentou sobrepôr sem sucesso. O poeta Alegre, à parte todos os defeitos que lhe possam ser apontados devido à sua candidatura (e outras situações), conseguiu estabelecer uma certa distância com classe e dignidade, características que Portas não possui e cujo significado desconfio que desconheça.
As entrevistas da senhora lembram um programa de TV daqueles bem reles em que o objectivo é confrontar os convidados com coisas que disse ou fez no passado, exigindo explicações a fim de o encavacar e, se tudo correr bem, de o humilhar. Tudo gira à volta do "mas o senhor disse..." e "por que é que disse..." e "o que é que acha do seu rival...", etc... tudo o que meta possível embaraço é abordado na entrevista.
Eu pergunto-me: com tanto bom jornalista no país, qual é a necessidade de recorrerem a pessoas como estas? Só irá contribuir para a má reputação da estação televisiva em questão. But then again... estamos a falar da TVI certo?

P.S.- Teremos o prazer de assistir à entrevista a Cavalo Silva na próxima Segunda-feira...!

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