A melga é um bicho estúpido. Mas no verdadeiro sentido da palavra. Se a sua existência consiste em ser chata e incómoda ao menos que o faça como de ser. Costumo ler na cama com a janela aberta e de vez em quando lá entram umas quantas. Vou dar com elas ou em cima do candeeiro ou do meu braço. E basta-me movimentar indicador em direcção à presa (à velocidade que me apetecer) e são automaticamente esborrachadas. Já lá vai o tempo elas davam luta e eu ficava uma hora de chinelo na mão inferiorizada pelos bons reflexos das
bichas. Das duas uma... ou a minha janela atrai melgas burras (o que me deixa particularmente ofendida) ou esta nova geração está completamente perdida. Literalmente falando, uma vez que se deixam matar com esta facilidade. Mas isto foi apenas uma introdução, completamente fora de contexto, dado que não é disto que vos quero falar.
Se há coisa que me deixa verdadeiramente revoltada são pessoas que nunca se põem em causa. Nunca, em caso algum. Eu pergunto-me: com que direito...? Temos, claro, que ter confiança em nós próprios e dar valor à pessoa que somos com todas as qualidades e defeitos, sendo que ninguém é perfeito. E ainda bem que assim é. Mas, a partir do momento em que decidimos viver em comunidade (e quero salientar isto), considero de extremo egoísmo quem não se esforça minimamente para lutar contra as suas piores qualidades. Não estou a dizer que já ninguém pode ter defeitos, não é nada disso. Mas muita gente não muda apenas por não querer dar-se a esse trabalho. Custa tentar modificar características pessoais, demora algum tempo. Mas acredito que dê bons resultados no futuro. Uma pessoa só tem a ganhar ao reflectir sobre si mesmo e tentar melhorar. Aquela história do "têm de me aceitar como eu sou" nem sempre está certa. Por vezes reflecte unicamente um egocentrismo tremendo. Estão conscientes que possuem certas características sobre as quais podiam reflectir, que inclusivamente afectam quem as rodeia, mas vivem num mundo cujo centro são eles próprios e assim dificilmente serão chamados à razão. Todos nós erramos, todos temos defeitos e cabe-nos a nós combatê-los. Devemos por-nos em causa e perceber que não somos o centro do universo. Vivemos todos em função de nós próprios e consequentemente de quem nos rodeia. Não devemos viver só para nós. Não podemos dar-nos a esse luxo.